No mês de novembro que inicia com o dia de todos os Santos falemos, pois, de santidade! O foco da santidade não está propriamente no não pecar, mas no refugiar-se à sombra da misericórdia de Deus, que é mais forte que os nossos pecados e capaz de levantar o crente que caiu. A vida do santo é um canto elevado à misericórdia de Deus. O santo é aquele que testemunha a vitória de Deus, três vezes Santo e três vezes Misericordioso. Assim sendo, a santidade é graça, dom, e pede ao homem a abertura fundamental para deixar-se ser invadido pelo dom divino.
Sem dúvida, podemos afirmar que a santidade cristã, mesmo na sua dimensão ética, não é de natureza legal ou jurídica, mas eucarística: é resposta à charis de Deus manifestada em Jesus Cristo. E é assinalada pela gratuidade e pela alegria; o santo é aquele que diz a Deus: “não eu, mas Tu”. Esta ótica da “graça” nos leva a afirmar que o outro nome da santidade é beleza. Sim, na ótica cristã a santidade se declina também como beleza. Articulada como beleza, a santidade aparece como não-individualista, não somente fruto do esforço, até mesmo heroico, do indivíduo, mas muito mais como teofania da comunhão na vida daquele que crê.
A santidade é beleza que contrasta com a feiura do fechamento em si mesmo, do egocentrismo. É a alegria que contrasta com a tristeza de quem não se abre ao dom de amor, como o jovem rico “que foi embora triste” (Mt 19,22). Escreveu certa vez Bloy: “só existe uma tristeza, aquela de não ser santo”. Eis que santidade e beleza são dom e responsabilidade do cristão.
A beleza, enfim, se transforma em profecia de salvação nas palavras de Dostoevskij: “ é a beleza que salvará o mundo”. Temos, de fato, que instaurar a beleza nas relações para fazer da igreja uma comunidade onde se vivam relações fraternas inspiradas na gratuidade, na misericórdia e no perdão; onde ninguém diga ao outro: “eu não tenho necessidade de você” (cf. ICor 12,21). Porque toda ferida na comunidade desfigura a beleza do único Corpo de Cristo.
É uma beleza que deve caracterizar a igreja como local de luminosidade (cf. Mt 5,14-16), espaço de liberdade e não de medo, de simpatia e não de contraposições vãs, de dilatação da caridade, da partilha e solidariedade sobretudo com os pobres. É uma beleza que deve pervagar os espaços, as liturgias, os ambientes e, sobretudo, aquele templo vivente que são as pessoas. É a beleza que nasce da sobriedade, da pobreza, da luta contra a idolatria e contra o espírito mundano. A beleza cristã não é um dado, mas um evento. Evento de amor que narra sempre de novo, de maneira criativa e poética, na história, a loucura e a beleza trágica do amor com que Deus nos amou, dando-nos o seu Filho, Jesus Cristo.
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