Esta situação inédita, pela qual estamos passando, nos toca profundamente no desejo de viver o espírito paroquial como família. Aliás, paróquia significa justamente casa. Quem sabe, neste momento, o Senhor nos dá um sinal para redescobrirmos os ritos religiosos e de fé em nossas casas? O Padre Fiori recorda-nos que viveu sua infância na roça e mesmo estando territorialmente longe da Igreja, os ritos familiares marcaram fortemente sua memória, pela doçura de sua mãe e a discrição de seu pai ao transmiti-los aos filhos. É assim que vemos cada uma de nossas famílias, aquelas que conhecemos mais de perto. Nesta situação inédita estamos redescobrindo a essência do fenômeno tempo e de sua utilidade.
Santo Agostinho, bispo da Diocese Hipona, nos dizia que o tempo é uma extensão da alma. Precisamos redescobrir o que significa ter uma alma, por vezes esquecida, em um mundo que impera a aceleração e a correria. Hoje em dia, tempo é sinal de velocidade, já que vivemos sempre dizendo: “Ah, a minha vida está tão corrida!”. Sem dúvida que, na situação atual, queremos voltar logo para os nossos afazeres, voltarmos a ter a liberdade que tínhamos para o famoso corre-corre do dia a dia. Mas estamos certos de que este isolamento é uma oportunidade para aprendermos muitas coisas para buscarmos a essência de nossa alma, ou da alma de alguém que ali está, tão próximo, mas ao mesmo tempo tão distante de nossos sentidos e de nossa percepção. E, sobretudo, percebermos o coração encantador de nossas crianças, nossos filhos ou netos, que estão crescendo, construindo sua personalidade, edificando-se neste tempo tão corrido. É preciso aproveitarmos a oportunidade de vivermos cada momento, apreciarmos o espaço do ciclo vital de cada um.
Talvez estejamos redescobrindo em nossas famílias um pouco do que significa a vida contemplativa, aquele olhar que se demora sobre as coisas. Tão próprio da vida monástica. Neste sentido, nossas famílias tornam-se pequenos mosteiros beneditinos, vivendo juntos o ora et labora (=reza e trabalha), repartindo os afazeres e sabendo economizar, porque este é um tempo de incertezas e desafios, que logo irá passar.
Nós, padres, estamos vivendo isso com vocês e, talvez mais do que vocês, sentimos a ausência de vossa presença física no acolhimento e nas vivências do cotidiano. Entretanto, o que determina este afastamento não depende de nós, porém a ele devemos obediência, mas estejam certos de que nossa oração por vocês é mais intensa e sentida também para nós.
Certamente, nós sacerdotes sairemos mais maduros deste kayrós, deste tempo que estamos vivendo. E, seguramente, vocês também voltarão para as nossas celebrações, para as nossas diversas pastorais e para o mundo de fora mais maduros e cheios de fé, com a imaginação mais aguda e a criatividade aflorada para enfrentar os desafios da vida. Disse o Senhor: “não tenhais medo, eu venci o mundo”.
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