Aquele que encheu o céu com milhares de estrelas e galáxias se fez pequeno e recomeça a história a partir Belém. Em Belém não tem nenhuma ilusão, nenhuma mentira, nenhum engano. E o que garante esta verdade é a manjedoura e a cruz. E Deus está ali, onde a razão se escandaliza, a natureza se rebela e onde eu não gostaria de estar. Simone Weil afirmou certa vez: “a vida do cristão só é compreensível, se nessa tem alguma coisa de incompreensível”.
Mas o milagre grande a contemplar é que Deus não plasma mais o homem com o pó da terra como no princípio no Jardim do Éden, mas que ele mesmo se fez pó plasmado, vaso frágil de argila, criança para a qual não tem lugar na hospedaria.
Só um Deus poderia embocar uma estrada assim e somente os humildes podem compreender e crer, alegres por um Deus assim tão livre e tão grandioso que prefere aquilo que o homem despreza. O prodígio maior é que Deus ama aquilo que é humilde, olhou para a humildade de sua serva, para a simplicidade de uma estrebaria, enfim, para a humildade dos pastores. Deus na humildade: eis, portanto, a palavra revolucionária, apaixonante do Natal.
A história de Belém não é uma lírica emotiva: o Natal dá início ao julgamento do mundo e mais ainda, dá início à redenção do mundo. Aquilo que muitas vezes o presépio não nos ajuda a perceber, é que no Natal deu-se início à reviravolta total, um novo ordenamento de todas as coisas do mundo. O Natal nos diz que a história não é herdeira de quem ostenta força e procura escalar “tronos”. Esta sim é a história dos perdedores. A história verdadeira é aquela que é obra de quem se coloca lá onde ninguém gostaria de estar, na humildade do serviço, na insignificância aparente da bondade, no silêncio dos homens e mulheres de boa vontade. Maria antecipou o Natal no seu Magnificat: “derrubou do trono os poderosos, e elevou os humildes” (cf Lc 1, 46-55). É o menino Jesus dentro da manjedoura que cumpre o julgamento e a redenção do mundo.
A pergunta é: quem celebrará bem o Natal? Aqueles que depõem diante d’Aquele menino de Belém, toda busca de prestígio, toda indiferença para com os outros, quem se coloca do lado não de quem fere, mas de quem cura, quem descobre a boa vontade e a vontade boa das coisas. Quem não exporta frieza, mas comunhão, quem acolhe Deus na carne. O Verbo se fez carne (cf. Jo 1,14).
Deus pequenino, incapaz de se defender, de agredir e de fazer mal a alguém. Deus pequenino como uma criança que não sabes outra coisa que pedir e dar amor, ensina-nos que não existe outro sentido, que não existe outro destino que aquele de ser semelhante a Ti. Amém.
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